O que é One Health?
One Health é uma abordagem para o desenho e implementação de programas, políticas, leis e pesquisas aos quais diversos setores se comunicam e trabalham em conjunto para alcançar melhores resultados na saúde pública.” (Escritório regional da OMS na Europa, 2021a). A abordagem promove uma colaboração multissetorial, transdisciplinar que conecta a saúde humana, animal e do meio ambiente.
Papel do meio ambiente no One Health
O estado do meio ambiente, suas mudanças e processos que ocorrem, desempenham um papel fundamental em doenças mediadas por animais (animal-mediated diseases). A abordagem do One Health promove a colaboração entre profissionais veterinários e profissionais de saúde; nos últimos tempos, muita atenção tem sido dada à relação entre a saúde humana e animal, focando nas emergências de doenças zoonóticas. Da mesma forma, a importância da saúde no meio ambiente (o impacto dos perigos físicos, químicos e biológicos na saúde humana) tem chamado a atenção nos últimos anos.
O ecossistema mundial é a fonte da vida na terra e é essencial em cada aspecto da vida humana. Biodiversidade, do âmbito microscópico ao mais amplo, é bastante interligada à saúde humana. Mais especificamente, a função do meio ambiente no One Health pode ser simplificada em três mecanismos: como reservatório, como processo e como mediador de saúde.
O meio ambiente funciona como um reservatório, onde substâncias e nutrientes são acumulados e transportados. Terrenos, incluindo seu solo e corpos d’água abrigam comunidades de organismos que habitam aquela área (microorganismos, plantas e animais). O meio ambiente também é um reservatório natural de patógenos, genes de resistência a antibióticos e produtos químicos. A poluição antropogênica do ar, água e do solo deposita produtos químicos tóxicos, excedendo o número de nutrientes, patógenos e antibióticos. Esses componentes se acumulam no meio ambiente, até por um longo período de tempo. Com isso, são transportados através do ar e da água, bem como através e dentro dos corpos dos seres vivos.
O meio ambiente é um substrato para o processo ecológico que fornece uma variedade de serviços ecossistêmicos para os seres humanos, inclusive aqueles essenciais para a saúde humana. Condições do habitat definem a composição da comunidade e a distribuição espacial da biota – plantas, animais, micróbios e outros organismos vivos. Os processos ecológicos de comunidades como interações na teia alimentar, competição e simbiose regulam o tamanho da população dessas espécies. Estes processos também direcionam a evolução de seres vivos. Devido ao curto ciclo de vida dos microrganismos (incluindo vírus), elementos de estresse no meio ambiente podem ter um efeito mais pronunciado na evolução de patógenos, micróbios e genes resistentes. Alguns produtos químicos são transformados no ambiente, resultando na degradação do solo e transmissão para a saúde humana e animal através do ar, solo e água.
O meio ambiente age como um mediador de saúde, produzindo efeitos positivos ou negativos na saúde humana e animal, dependendo da condição de saúde do próprio meio ambiente. Produtos químicos, genes e patógenos são transferidos para humanos e animais seja diretamente pelo solo, ar ou água, ou pela alimentação ou contato direto de animais infectados.
Elementos de estresse no meio ambiente
Altas taxas de troca patogênica local, regional e global são lideradas pelo aumento da população; alta densidade populacional e pela globalização, caracterizada pela massiva movimentação de pessoas, mercadorias, animais e alimentos. Os elementos de estresse desempenham um papel fundamental nas doenças mediadas por animais. Confira alguns elementos que prejudicam a relação saudável do meio ambiente com os seres humanos e animais.
Mudanças no uso da terra: fragmentação; expansão agropecuária; urbanização; resistência antimicrobiana.
Declínio da biodiversidade: extinção de animais selvagens; tráfico de animais selvagens; aumento de espécies de plantas e animais invasivos;
Mudança climática: Migração de espécies; aumento da temperatura global; perda do controle zoonótico por conta de desastres naturais como furacões, alagamentos e incêndios.
Ecotoxicidade e poluição química: Produção de carne; uso de pesticidas e agrotóxicos.
Poluição do ar: uso de combustíveis fósseis; urbanização; Queima de resíduos; industrialização.
Poluição da água: Alagamentos; falta de saneamento básico; descarte de resíduos, entre outros.
Poluição dos oceanos: Destruição de recifes de corais; extinção da vida marinha através da poluição dos mares e derretimento das calotas polares entre outros efeitos.
À medida que celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, devemos lembrar que a saúde humana está intrinsecamente ligada ao estado do nosso meio ambiente. O conceito de One Health destaca essa conexão, ressaltando a necessidade de adotarmos uma abordagem holística para promover a saúde de todos os seres vivos.
Uma colaboração conjunta entre organismos ambientais e de saúde em todos os níveis – locais e internacionais – desempenham um papel considerável na restauração ambiental a partir da identificação dos impactos do meio ambiente na saúde humana. Essa colaboração pode facilitar a consciência do papel explícito da degradação do meio ambiente em doenças mediadas por animais, investimento em pesquisa interdisciplinar e promoção de ações baseadas em evidências. Além disso, novas ferramentas científicas e tecnologias podem elucidar as conexões entre diversas escalas – desde a evolução genética de novos patógenos aos processos globais que os propagam.
Ao agir de forma consciente e sustentável, podemos contribuir para a preservação do meio ambiente e garantir um futuro mais saudável para as gerações futuras. Juntos, podemos fazer a diferença!
Texto por Matheus Ponte
Referências
Organização Mundial da Saúde (OMS) Escritório Regional da OMS na Europa. A health perspective on the role of the environment in One Health.
