A origem da varíola da varíola ainda é muito contestada e discutida e os primeiros relatos da doença datam da era cristã. Uma das hipóteses sugere que a varíola está relacionada à praga dos Hititas, originária do Egito, e a epidemia ocorrida durante a Guerra dos Elefantes.
A outra hipótese sugere que a varíola tenha se originado na Índia, baseada em descrições do Atharva Veda (texto sagrado dos hindus). A contestação a essa hipótese defende que a varíola foi introduzida no país por mercadores egípcios.
O crescimento populacional fez com que a doença se espalhasse por praticamente toda a Europa e chegasse até o Japão.
Nas Américas
A varíola foi introduzida no continente Americano durante a colonização, trazida pelos europeus. Os povos originários foram fatalmente afetados e, alguns, dizimados. Com o passar do tempo ocorreram várias epidemias, mas um evento em particular teve grande importância na epidemiologia.
Em fevereiro de 1947 um homem chamado Eugene Le Bar saiu do México em direção à cidade de Nova York, nos Estados Unidos, fazendo uma viagem de ônibus. Eugene estava bem quando embarcou, mas na mesma noite se sentiu doente. Os sintomas eram leves, descritos como dor de cabeça, dor nas costas e no pescoço. Dois dias depois apresentou irritações cutâneas.
Ao chegar em Nova York, dia 1º de março, se registrou em um hotel no centro e, mesmo não se sentindo bem, saiu para caminhar pela cidade. Pouco tempo depois deu entrada em um hospital, onde permaneceu por alguns dias. Devido às erupções cutâneas, foi transferido para um hospital de doenças transmissíveis (Hospital Willard Parker), mas mesmo apresentando erupções pela pele, o diagnóstico de varíola foi descartado pela aparente ausência de exposição à doença e as erupções foram justificadas pelo uso de medicamentos – que Le Bar havia ingerido devido às dores de cabeça.
Após a sua morte, dia 10 de março, a autópsia revelou diversas erupções nos órgãos e vísceras, além de várias hemorragias internas. Le Bar não havia se vacinado no ano anterior à viagem.
A partir daí, houve uma série de acontecimentos catastróficos: dois pacientes que estavam no hospital no mesmo período que Le Bar (e não eram vacinados) receberam alta após se curar das suas enfermidades; um deles, o sr. Acola, foi atendido em outro hospital e transferido de volta ao Willard Parker com suspeita de catapora; a menina também retornou e recebeu o mesmo diagnóstico.
Fluidos extraídos das pústulas desses pacientes foram enviados para análise laboratorial devido a suspeita de varíola e, neste momento, todos os funcionários do hospital foram vacinados. O caso de Eugene Le Bar foi cuidadosamente revisado e as lesões foram analisadas a fundo. O diagnóstico de varíola foi confirmado e agora estava claro que ele tinha sido a fonte de infecção para os outros dois casos.
Todas as pessoas do edifício foram imediatamente vacinadas; os possíveis contatos dos pacientes que receberam alta foram rastreados e vacinados, bem como os hóspedes e funcionários que estavam no hotel quando Le Bar se hospedou; os hóspedes que já haviam saído do hotel também foram rastreados e instruídos a se vacinar imediatamente.
A esposa do sr. Acola, um dos pacientes que recebeu alta, faleceu devido a doença. Ela se vacinou assim que soube do diagnóstico do marido, mas já havia contraído a doença. Outros pacientes do hospital em que o sr. Acola foi atendido antes da transferência também foram levados ao Willard Parker após o aparecimento de lesões e confirmação da infecção por varíola.
Um garotinho que recebeu alta do hospital no mesmo dia em que Le Bar morreu estava infectado e foi a fonte de infecção de mais três pessoas em casa, em Millbrook, N.Y. No total, o surto contaminou 12 pessoas.
O rastreamento de contatos incluiu a rota que o ônibus de viagem de Le Bar percorreu e nenhum caso foi registrado; a esposa de Le Bar, vacinada enquanto visitava o marido no hospital, estava bem de saúde.
O plano de vacinação elaborado para que toda a população nova-iorquina fosse vacinada incluiu uma transmissão da situação pela imprensa, via rádio, e todos os postos de vacinação ficaram abertos dia e noite, sete dias por semana. Em um período de um mês, mais de 6.350.00 pessoas foram vacinadas.
Texto por Náthali Abreu
Referências
American Journal of Public Health and the Nations Health, 1947
WEINSTEIN, Israel. An outbreak of smallpox in New York City. American Journal of Public Health and the Nations Health, v. 37, n. 11, p. 1376-1384, 1947.
Disponível em: https://ajph.aphapublications.org/doi/pdf/10.2105/AJPH.37.11.1376