Dia Mundial do Epidemiologista de Campo. Celebrando os detetives da saúde pública

Hoje, Dia 7 de setembro é o Dia Mundial do Epidemiologista de Campo! A pandemia de Covid-19 trouxe uma visibilidade nunca antes vista ao trabalho dos epidemiologistas de campo, mas esta visibilidade nem sempre resultou no entendimento sobre a importância da epidemiologia de campo, nem no aumento do apoio necessário no fortalecimento dos sistemas de saúde ao redor do mundo na melhor detecção e resposta a surtos.

Por que o 7 de setembro?

Nesta data, em 1854, John Snow levou seus achados do tão famoso surto de cólera da Broad Street, em Soho, nos arredores de Londres, às autoridades de saúde naquela época. Durante o período, a região enfrentava problemas como o excesso de lixo e serviços sanitários inadequados – o esgoto de Londres não chegava até lá. Além disso, havia ainda estábulos e matadouros, contribuindo com excrementos de animais e outros fluídos, e fossas que quando transbordavam eram despejadas no rio Tâmisa. 

Antes do surto da doença, as principais teorias para explicar a doença eram a do miasma e a dos germes. A teoria do miasma defendia que a doença era causada por partículas do ar, provenientes da decomposição de matérias orgânicas. John Snow, porém, não acreditava que essa era a causa; observando os surtos anteriores e as condições em que os londrinos viviam, defendeu a teoria dos germes. 

Em casas de apenas um cômodo, em que as famílias se asseavam e comiam no mesmo cômodo, a doença se espalhava; onde os cômodos para cozinhar eram separados, raramente um membro da família contaminava outro. Assim, John concluiu que o causador da doença estava em algo que era ingerido.

Para demonstrar sua teoria, John se utilizou de uma área em Londres que recebia água de dois fornecedores diferentes: um deles utilizava a água do rio Tâmisa e o outro utilizava água de uma fonte pura. Snow observou que as pessoas que bebiam água originária do rio eram mais propensas a morrer de cólera do que aqueles que bebiam da outra fonte. Como eram vizinhos, a teoria miasmática não tinha aplicação.

Assim, John Snow demonstrou que a ingestão de água contaminada era o fator causador da doença.

Quem são os epidemiologistas de campo?

São aqueles que são considerados mundialmente os “detetives de doenças” responsáveis por investigar os sinais de saúde para confirmar surtos ou identificar casos, contatos e fatores de risco para doenças.

Ao redor do mundo, seu trabalho fortalece o conhecimento baseado em evidências que fortalecem as políticas em saúde e intervenções. Os conhecimentos a nível comunitário e experiências que os epidemiologistas de campo adquirem através de seu trabalho os possibilita de fornecer aos gestores em saúde, informações para geração de estratégias efetivas no âmbito das intervenções em saúde e programas. Um diferencial dos epidemiologistas de campo é que muitos possuem conhecimento multidisciplinar, que os permite responder a uma variedade de problemas no âmbito da saúde.

A importância da Epidemiologia de Campo

Os epidemiologistas de campo são os herois desconhecidos na luta contra doenças infecciosas.

Eles empregam métodos científicos para investigar as causas, padrões e a transmissão de doenças, auxiliando os sistemas de saúde a responderem de forma rápida e efetiva a ameaças emergentes. Seu papel nunca foi tão crítico quanto agora, com os recentes desafios globais da saúde como a pandemia de Covid-19, surtos de Ebola, Mpox e de doenças transmitidas por vetores como a malária e a dengue.

O trabalho dos epidemiologistas incluem: 

  • Vigilância: consiste no monitoramento de tendências da doença e identificação de padrões incomuns;
  • Investigação de surtos: quando uma doença emerge, os epidemiologistas de campo são acionados para encontrar a origem, entender as cadeias de transmissão e orientar sobre medidas de contenção;
  • Coleta de dados e análise: reunir evidências e traduzir em insights práticos para informar as políticas em saúde pública;
  • Engajamento comunitário: trabalhar com as comunidades locais para assegurar que as intervenções em saúde pública são efetivas e apropriadas culturalmente.

Um esforço global

O Dia Mundial da Epidemiologia de Campo não é só sobre celebrar aqueles na linha de frente, mas também sobre aumentar a conscientização sobre a necessidade de investimento contínuo nos programas de treinamento em epidemiologia de campo, especialmente em países de renda baixa e média. Os Programas de Treinamento em Epidemiologia de Campo (FETPs) têm sido fundamentais na construção de uma força tarefa global capaz de responder a surtos no âmbito local, nacional e internacional.

Por que é importante para todos?

O trabalho dos epidemiologistas de campo impacta diretamente o bem estar e a saúde de todos. Suas investigações ajudam a controlar a transmissão de doenças e prevenir futuros surtos, contribuindo para comunidades e países mais saudáveis. Investir na epidemiologia de campo não somente fortalece nossa habilidade de responder prontamente às ameaças que atingem a saúde pública, mas também nos prepara para futuras pandemias e crises na saúde.

Uma chamada para ação

Neste especial, vamos reconhecer a apoiar o trabalho crítico dos epidemiologistas de campo. Você pode contribuir para essa conscientização aprendendo mais em como os profissionais da saúde pública nos protegem a todo momento; defendendo uma infraestrutura de saúde pública mais forte e apoiando organizações que treinam e oferecem suporte a epidemiologistas de campo ao redor do mundo. E a ProEpi é uma delas!

Juntos, podemos criar um mundo onde todos estão protegidos da ameaça de doenças.

Texto por Matheus Ponte

Referências

Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Field Epidemiology Training Program. Acesse em: https://www.cdc.gov/globalhealth/healthprotection/fetp/index.htm

World Field Epidemiology Day Official Website. Acesse em: https://www.worldfieldepidemiologyday.org/

World Health Organization (WHO). “What is Field Epidemiology?” Acesse em: https://www.who.int/initiatives/cohfe-framework#:~:text=Field%20epidemiology%20is%20the%20application,for%20Disease%20Control%20and%20Prevention.


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