Linha do tempo das arboviroses no Brasil

2024 já é o ano da maior epidemia de dengue da história do país, com mais de 6,2 milhões de casos prováveis, superando em mais de 4 milhões em comparação com o segundo período registrado com o maior número de casos em 2015. Além disso, mais de 4.300 óbitos pela doença já foram confirmados no território nacional, enquanto outros 2.683 estão em investigação (dados de 03 de julho).

10 unidades da federação já decretaram emergência em saúde pública em razão do aumento de casos de dengue no Brasil. São eles: Acre, Paraná, Distrito Federal, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. 

 A dengue tem sido um problema de décadas no Brasil, apesar do país já ter alcançado a erradicação do mosquito Aedes aegypti – mosquito transmissor da dengue – duas vezes, em 1955 e em 1973, desde 2001 o Ministério da Saúde reconhece que não é mais possível erradicar o Aedes aegypti do Brasil.

Com as mudanças climáticas vividas pelo planeta neste século, o problema da dengue está longe de uma solução. O ritmo atípico do fenômeno do El Niño será mais frequente, fortalecendo o aumento das temperaturas intercalando com chuvas intensas e irregulares, condições propícias para a reprodução e disseminação da doença. 

Para compreendermos melhor a questão de saúde pública que a dengue impõe sobre o Brasil, nossa matéria de hoje vai trazer uma linha do tempo histórica das arboviroses no país. Aperte os cintos e vamos viajar. 

Século XVI: Chegada do Aedes aegypti ao Brasil a partir do continente africano em navios usados no tráfico de pessoas escravizadas;

1850: Primeira epidemia de febre amarela urbana (Rio de Janeiro) 

Início do século XX: epidemias de febre amarela urbana no país;

1928/ 1929: Última epidemia de febre amarela registrada em ambiente urbano (Rio de Janeiro)

Décadas de 1930/ 1940: Grande mobilização para erradicação do Aedes aegypti, envolvendo a Fundação Rockefeller e o governo brasileiro

1937: Início da produção de vacina contra a febre amarela no Brasil (o imunizante, portanto, está em uso há mais de oito décadas)

1942: Últimos registros de febre amarela urbana no Brasil (Acre)

1955: Último foco de Aedes aegypti encontrado no Brasil (Bahia)

1958: A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que o Brasil erradicou o Aedes aegypti 

1967: O Aedes aegypti é encontrado novamente (Pará e Maranhão)

1973: O Brasil declara haver eliminado o Aedes aegypti mais uma vez 

1976: O Aedes aegypti é encontrado novamente na Bahia e, desde então tem se espalhado pelo território brasileiro. Hoje, o mosquito está presente em todos as unidades federativas e em mais de 85% dos municípios (dados de 2019)

1981: A primeira epidemia de dengue (sorotipos 1 e 4) confirmada laboratorialmente no Brasil (Roraima) tem como resposta grande mobilização do governo brasileiro para a eliminação do vírus

1986: Detecção do sorotipo 1 do vírus dengue (Rio de Janeiro)

1986/1987: Epidemias de dengue na região metropolitana do Rio de Janeiro durante o verão; a partir daí, a disseminação do vírus para outros estados motiva a intensificação das ações de controle do mosquito

1990: Detecção do sorotipo 2 do vírus da dengue (Rio de Janeiro)

1997: A partir deste, ano foi estabelecida grande disseminação do vírus dengue pelo país, com epidemias nos anos de 1998, 2002, 2008, 2010, 2013.

2000: Detecção do sorotipo 3 do vírus dengue (Rio de Janeiro)  

2010: Detecção do sorotipo 4 do vírus dengue (Roraima)

2014: Identificação do vírus chikungunya no Brasil (Amapá e Bahia)

2015: Identificação do vírus Zika no Brasil (Bahia) e início da associação da infecção a malformações congênitas por conta do aumento da ocorrência de microcefalia entre bebês, com anúncio do status de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN)

2016/ 2017: Surtos de febre amarela (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia), associados à transmissão silvestre (por mosquitos dos gêneros Sabethes e Hemagogus, que habitam ambientes de matas); preocupação com a possibilidade de reurbanização da doença (circunstância em que a transmissão envolve o Aedes aegypti) 

2017: O Sistema Único de Saúde (SUS) expande a vacinação gratuita contra a febre amarela para todo o país.

2019: Evidência de recirculação no país do sorotipo 2 do vírus dengue

2020/ 2022: No contexto da pandemia de Covid-19, o acesso dos agentes de saúde às moradias é interrompido, inviabilizando a vigilância sobre a densidade das populações do Ae. aegypti

2022: A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) emite alerta epidemiológico sobre a queda das taxas de vacinação para febre amarela (segundo o documento ‘Alerta epidemiológico Febre Amarela’, de 2022).

2024: Brasil vive sua maior epidemia de dengue da história, com mais de 5,8 milhões de casos prováveis ainda em junho.

As arboviroses e, mais especificamente a dengue, são problemas históricos do Brasil, como vimos nesta linha do tempo. 

O afrouxamento e a pouca eficácia das medidas de controle do vetor, além das mudanças climáticas cada vez mais frequentes são alguns elementos que contribuem para que a dengue se torne um problema cada vez mais frequente no cotidiano da população e de combate mais difícil. 

Cada vez mais surge a necessidade de respostas mais efetivas no controle do vetor, demandando ações coordenadas entre as mais diferentes esferas (nacionais, estaduais e municipais) bem como a participação de diversos atores no âmbito público, de profissionais da saúde, entidades e a população. 

Texto por Matheus Ponte

Revisão por Pedro Presta Dias

Referências

Ministério da saúde. Painel de monitoramento de arboviroses. Acesse em:  https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/aedes-aegypti/monitoramento-das-arboviroses

O Estado de S. Paulo. Dengue: Brasil supera 1,8 milhão de casos e já vive maior epidemia da história. Acesse em: https://www.estadao.com.br/saude/dengue-brasil-supera-18-milhao-de-casos-e-ja-vive-maior-epidemia-da-historia/

Unicef. Arboviroses na prática: Guia rápido para profissionais de saúde. Acesse em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2024/03/18/dengue-recorde-casos.htm
UOL. Brasil tem 1,8 milhão de casos de dengue em 2024 e bate recorde histórico. Acesse em: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2024/03/18/dengue-recorde-casos.htm

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