Controle de vetores. 4 pilares de ação possíveis

O que é? 

Vetores são organismos vivos que podem transmitir patógenos infecciosos entre humanos, ou de animais para humanos. Muitos desses vetores são insetos sugadores de sangue, que ingerem microrganismos produtores de doenças durante uma refeição de sangue de um hospedeiro infectado (humano ou animal) e posteriormente os transmitem para um novo hospedeiro, após a replicação do patógeno. 

Entre os principais vetores estão os mosquitos, moscas, insetos que transmitem vírus, parasitas e bactérias que infectam milhões de pessoas ao redor do mundo. Elas podem causar diversas doenças, incluindo malária, dengue, leishmaniose, doença de chagas e zika. 

A urbanização rápida e não planejada, a mudança dos padrões de uso das terras e o aumento do trânsito global de pessoas e mercadorias permitiu o aumento do contato dos humanos com vetores, enquanto o clima e outras mudanças no meio ambiente fortalecem seu espraiamento ao redor do mundo. 

Nos últimos anos, as doenças transmitidas por vetores se tornaram presentes em novos territórios: muitas doenças que estavam presentes somente em zonas subtropicais e tropicais estão sendo vistas cada vez mais em zonas temperadas. 

Os mosquitos (várias espécies) podem transmitir: Chikungunya, dengue, malária, febre amarela, zika, entre outras enfermidades;

Insetos triatomíneos (barbeiro): Doença de chagas; 

Carrapatos: Doença de lyme;

Caramujos: Esquistossomose;

Flebotomíneos: Leishmaniose (cutânea, mucocutânea e visceral)

Entre outros.

80% da população mundial está em risco por uma ou mais doenças transmitidas por vetores. Cerca de 17% da carga global de doenças transmissíveis é devido a doenças transmitidas por vetores. Cerca de 700.000 mortes ao ano são causadas por doenças transmitidas por vetores. 

Por afetar, em grande parte, populações mais vulneráveis, sua reprodução ser de larga escala e ser responsável pela redução do desenvolvimento econômico, é urgente o planejamento para o combate e controle das doenças transmitidas por vetores. 

O documento “Global vector response 2017-2030” elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) tem como objetivo apoiar os países no controle de vetores, estabelecendo o passo a passo, estratégias de controle e metas para a eliminação das doenças transmitidas por vetores em todo o mundo. 

O documento estabelece que, até 2030, haja uma redução de pelo menos 75% da mortalidade devido a doenças transmitidas por vetores relativas a 2016. Reduzir em pelo menos 60% a incidência de casos devido a doenças transmitidas por vetores comparadas à 2016. E prevenir epidemias de doenças transmitidas por vetores em todos os países. 

Para um controle de vetores mais efetivo, adaptável localmente e sustentável, o documento traz quatro pilares de atuação. Estes quatro pilares estão alinhados com gestão de vetores integrados e incluem: 1) Fortalecimento da colaboração e de ações inter e intrasetoriais; 2) Engajamento e mobilização comunitária; 3) Aprimoramento da vigilância, do monitoramento de vetores e da avaliação de intervenções; 4) Ampliação e integração de ferramentas e abordagens. 

As atividades em cada um destes pilares se complementam e é possível alguma sobreposição. Vamos ver com mais detalhes cada um dos pilares.

1) Fortalecimento da colaboração e de ações inter e intrasetoriais

A redução do impacto de doenças através do controle de vetores é uma responsabilidade compartilhada com toda a sociedade. A coordenação efetiva de atividades de controle de vetores é necessária até entre entes que não fazem parte da área da saúde (como outros ministérios e autoridades, parceiros de desenvolvimento e o setor privado) como também de setores da área da saúde (por exemplo programas de combate a doenças transmitidas por vetores, iniciativas com foco no saneamento básico, higiene e vigilância sanitária, sistemas de informação em saúde, entre outros). Algumas ações podem ser tomadas dentro deste pilar, como:

  • Análise situacional sobre a capacidade disponível no âmbito da saúde pública e além; 
  • Mapeamento de stakeholders no âmbito da saúde e além, como autoridades na área da agricultura, educação, meio ambiente, finanças, habitação, turismo, transportes e saneamento;
  • Criação de uma força tarefa intersetorial, que envolva os diversos stakeholders para avaliação das necessidades, elaboração e coordenação de um plano de ação para o controle e gestão de vetores.

2) Engajamento e mobilização comunitária

As comunidades têm um papel fundamental para o sucesso e a sustentabilidade do controle de vetores. Enquanto a coordenação entre os stakeholders é necessária, o controle de vetores depende criticamente do aproveitamento dos conhecimentos e competências locais nas comunidades. O engajamento e a mobilização das comunidades requer um trabalho em conjunto com os moradores para aprimorar o controle de vetores e construir uma resiliência contra futuros surtos de doenças. 

3)  Aprimoramento da vigilância, do monitoramento de vetores e da avaliação de intervenções

A capacidade dos vetores de transmitir patógenos e sua sensibilidade às medidas de controle dos vetores pode variar por espécie, localização e tempo, dependendo de fatores ambientais locais. A vigilância de vetores envolve a coleta regular e sistemática, análise e interpretação de dados entomológicos para avaliação de risco para a saúde, e para o planejamento, implementação, monitoramento e avaliação do controle de vetores. 

As atividades de rotina podem ser complementadas com questionários preliminares, verificações pontuais e investigações focais, conforme necessário, tais como em situações de epidemias, surtos ou aumento do risco de transmissão. 

As tarefas de vigilância devem ser planejadas de forma estratégica e com propósito para fornecer informações que permitirão a estratificação de áreas para investigação adicional ou para priorização de recursos. Assim, possibilita a detecção no aumento do risco ou transmissão e identifica ameaças específicas à eficácia do controle de vetores, tais como a resistência aos insecticidas.

4)  Ampliação e integração de ferramentas e abordagens.

Uma ação chave para maximizar o impacto da saúde pública no controle de vetores é a implantação e expansão de intervenções apropriadas ao contexto epidemiológico e entomológico. 

Em alguns locais, múltiplas intervenções de controle de vetores podem ter maior impacto na redução da transmissão ou da carga da doença do que uma única intervenção. As intervenções principais poderão ter de ser complementadas com ferramentas, tecnologias ou abordagens adicionais para enfrentar desafios específicos, como a resistência aos insecticidas. Ao considerar se deve ou não

complementar as intervenções principais, os programas de controle devem primeiro determinar se qualquer proteção adicional pode ser proporcionada pelas intervenções existentes através de mecanismos ou estratégias de execução melhorados.

As estratégias de controle de vetores devem ser aplicadas no contexto mais amplo da prevenção e controle de doenças transmitidas por vetores, juntamente com outras estratégias comprovadas. Para algumas doenças, o controle de vetores deve ser utilizado em combinação com uma vacina ou administração em massa de medicamentos apropriados. As vacinas podem contribuir para o fortalecimento da imunidade coletiva e, como é o caso de medicamentos específicos, podem diminuir o número de indivíduos suscetíveis ou transmissores, dessa forma tornando mais fácil sustentar a redução de doenças através do controle de vetores. Os objetivos de cobertura para vacinas e medicamentos profiláticos também dependerão do controle de vetores, que reduz efetivamente o risco de infecção por agentes patogênicos transmitidos por eles. 

Avanços expressivos têm sido feitos no combate à malária, doença de chagas entre outras doenças transmitidas por vetores, mas a carga de outras doenças aumentaram nos últimos anos. Desde 2014 grandes surtos de dengue, malária, chikungunya e febre amarela têm afligido populações, tirado vidas e sobrecarregado os sistemas de saúde em muitos países. Infecções por Zika vírus e suas complicações se espalharam rapidamente pela região das Américas em 2016, afetando indivíduos, causando transtornos sociais e econômicos. 

Fatores sociais, demográficos e ambientais alteraram os padrões de transmissão dos patógenos, resultando na intensificação, no espalhamento geográfico, e no aumento dos períodos de transmissão. Em particular, a urbanização desorganizada, a falta de tratamento de água adequado e o descarte inapropriado de resíduos são alguns elementos que aumentam o risco de doenças virais trazidas por mosquitos para as populações das cidades.

O controle e gestão de vetores é uma abordagem essencial na prevenção contra grande parte das doenças transmitidas por vetores. Intervenções que reduzem o contato humano-vetor e a sobrevivência dos vetores podem suprimir ou mesmo parar a transmissão, resultados desejáveis visto que está cada vez mais evidente a imprevisibilidade e a possível emergência de novas doenças transmitidas por vetores. 

Texto por Matheus Ponte

Imagem de capa: CDC

Referências

Organização Mundial da Saúde. Global Vector Control Response 2017-2030. Acesse em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/259205/9789241512978-eng.pdf?sequence=1
Organização Mundial da Saúde. Control of Neglected Tropical Diseases. Acesse em: https://www.who.int/teams/control-of-neglected-tropical-diseases/interventions/strategies/vector-control#:~:text=Proven%2C%20cost%2Deffective%20vector%20control,management%20for%20specific%20target%20vectors.

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